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Imagem de campos rupestres, na Estação Ecológica de Arêdes. |
Olá a todos. Hoje veremos um pouco sobre um dos
cenários mais desafiadores para a conservação ambiental no Brasil, a proteção
dos ambientes de Canga, ambiente raro e em risco de ser dizimado. Na Estação
Ecológica de Arêdes existem campos rupestres sobre quartzito e sobre canga. Os
campos rupestres são ecossistemas encontrados sobre topos de serras e chapadas
de altitudes superiores a 900 m com afloramentos rochosos onde predominam
ervas, gramíneas e arbustos, podendo ter arvoretas pouco desenvolvidas. Em geral,
ocorrem em mosaicos, não ocupando trechos contínuos. Apresentam topografia
acidentada e grandes blocos de rochas com pouco solo, geralmente raso, ácido e
pobre em nutrientes orgânicos. Em campos rupestres existe grande
ocorrência de espécies vegetais restritas geograficamente àquelas condições
ambientais (endêmicas).
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Área de campo rupestre sobre quartzito, na Estação Ecológica de Arêdes. |
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Área de campo rupestre sobre canga, na Estação Ecológica de Arêdes.
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Embora extremamente frágeis os campos rupestres sobre quartzitos
encontram-se bem protegidos em relação aqueles sobre Canga ou Itabiritos. Estes
últimos constituem uma formação vegetacional frágil, com espécies diferentes
daquelas que ocorrem nos quartzitos e com maior índice de endemismo.
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Imagem da espécie endêmica Arthrocereus glaziovii, na Estação Ecológica de Arêdes. |
As cangas são afloramentos formados há milhões de anos
resultante do intemperismo de rochas ferríferas subjacentes - tais como os
itabiritos e diamictitos ferruginosos - e posterior enriquecimento de ferro,
resultando em couraças que podem atingir dezenas de metros de espessura e se
estender por milhares de hectares. As couraças ferruginosas localizam-se
predominantemente no estado de Minas Gerais, principalmente no Quadrilátero
Ferrífero e ao longo da vertente leste da Cadeia do Espinhaço.
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Orquídeas sobre a canga, na Estação Ecológica de Arêdes. |
Os afloramentos ferruginosos fornecem serviços
ecológicos vitais, não apenas para o ambiente natural, mas também para a
população humana. As cangas agem como importantes áreas de recarga hídrica.
Devido à enorme quantidade de poros, fendas, fissuras, canais e cavidades
existentes nesses solos, elas funcionam como verdadeiras esponjas, transferindo
com eficiência a água da chuva para o interior das montanhas. No Quadrilátero
Ferrífero, as cangas e formações ferríferas abaixo delas constituem o principal
sistema de aquíferos, que armazenariam – estimativa obtida por estudos
geológicos – cerca de 4 bilhões de m3 de água. Esse geossistema contém milhares
de nascentes e vários mananciais que abastecem a região metropolitana e
interiores próximo a Belo Horizonte.
Área de campo rupestre sobre quartzito, na Estação Ecológica de Arêdes.
O Brasil é o segundo produtor mundial de minério de
ferro. Em 2010, foram extraídos no país cerca de 370 milhões de toneladas. A maior
parte (cerca de 65%) foi produzida no Quadrilátero Ferrífero, que concentra
quase 80% das minas de extração de ferro do país. Atualmente, as áreas
outorgadas oficialmente às empresas mineradoras de ferro abrangem cerca de 300
mil km² do território brasileiro, e nelas situam-se mais de 99% dos
afloramentos de canga. O Plano Nacional de Mineração, publicado em 2010 pelo
Ministério das Minas e Energia, prevê vida útil máxima de 29 anos para todas as
reservas lavráveis de ferro conhecidas no país sendo que menos de 1% das áreas
de cangas estão incluídas em unidades de conservação. Lembrando mais uma vez,
que mesmo assim, a Estação Ecológica de Arêdes corre o risco de perder a área
de canga preservada que existe em seu interior, com a lei 21555/2014, que desafeta
tacitamente estas áreas para a exploração mineral.
FONTES:
Site da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Flávio Fonseca do Carmo
Felipe Fonseca do Carmo
Iara Christina de Campos
Programa de Pós-graduação em Ecologia,
Conservação e Manejo da Vida Silvestre,
Instituto de Ciências Biológicas,
Universidade Federal de Minas Gerais
e Claudia Maria Jacobi
Departamento de Biologia Geral, Instituto de Ciências
Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais
Artigo publicado na revista Ciência Hoje
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Imagem da Estação Ecológica de Arêdes. (foto tirada em dezembro de 2012). |
"Olho por olho, e o mundo acabará cego".
Mahatma Gandhi