Ave maxalalagá (Micropygia schomburgkii). Imagem da internet. |
Carta Maxalalagá
A
maxalalagá (Micropygia schomburgkii)
é uma diminuta ave pertencente à família Rallidae, da qual fazem parte as
saracuras e os frangos-d’água. Contudo, apesar do seu estreito parentesco com
estas aves paludícolas, que geralmente habitam brejos e alagados, a maxalalagá
prefere áreas secas e com capim nativo, principalmente os campos típicos do
bioma Cerrado. Devido ao seu pequeno tamanho – mede apenas 15 cm – e hábitos
crípticos, é uma ave raramente vista, passando facilmente despercebida na
paisagem, uma vez que a maneira mais fácil de realizar sua identificação é
através do seu canto característico. Talvez por isso tenham se passado tantos
anos sem que ninguém notasse sua presença na região de Itabirito. Em Minas Gerais,
esta ave era conhecida somente das regiões do Triângulo Mineiro e da Serra da
Canastra, e apenas recentemente (2012) foi descoberta no Quadrilátero
Ferrífero.
Ultimamente
tem crescido o número de registros da maxalalagá nesta região, um fato animador,
tendo em vista que a espécie é considerada “em perigo” de extinção no estado de
Minas Gerais. Estes novos registros podem ter relação com o aumento do
conhecimento da biologia e vocalização da espécie por parte dos biólogos, como
também pode refletir um aumento da atenção dada aos campos nativos de Cerrado,
originalmente negligenciados – a maior parte da população vê tais áreas como
meros pastos - e que tem se tornado cada vez mais raros e ameaçados no
Quadrilátero Ferrífero, a despeito do seu comprovado valor ecológico. Não
somente a maxalalagá habita tais campos, como inúmeras outras aves ameaçadas de
extinção e extremamente raras na região, como o tico-tico-de-máscara-negra (Coryphaspiza melanotis), o
caminheiro-grande (Anthus nattereri),
o papa-moscas-do-campo (Culicivora
caudacuta), a corruíra-do-campo (Cistothorus
platensis), além de mamíferos como o logo-guará (Chrysocyon brachyurus) e a raposinha (Lycalopex vetulus).
Dentre
as áreas que ainda possuem remanescentes relevantes de campos nativos (i.e.
campos limpos, campos sujos e cerrado ralo) no município de Itabirito,
destacam-se a Estação Ecológica Estadual de Arêdes (EEE Arêdes) e o Monumento
Natural Estadual da Serra da Moeda (MNE Serra da Moeda). Embora estas unidades
de conservação ainda possuam algumas áreas importantes para a conservação das
espécies supracitadas, as pressões antrópicas do entorno tem crescido em tons
alarmantes. A expansão urbana desordenada e a forte presença de mineradoras na
região são uma grande ameaça para a sobrevivência das aves e demais animais
associados a este tipo de vegetação que está desaparecendo rapidamente. Não
fosse o bastante, em tempos recentes tem surgido uma nova ameaçada para os
campos de Cerrado no entorno da EEE Arêdes e MNE Serra da Moeda: a Silvicultura.
Diversos plantios de eucaliptos (Eucalyptus
sp.) tem surgido na área de forma desordenada e a uma velocidade
impressionante (Figura 1),
sem qualquer tipo de planejamento e licenciamento. A substituição dos campos
nativos por eucaliptais diminui o habitat disponível para as espécies e impede
o deslocamento das mesmas entre os fragmentos remanescentes, podendo gerar a
extinção local de diversas populações. Estas atividades devem ser vistas com extrema
cautela e alvo de melhor planejamento no futuro, visando à conservação dos
animais e habitats tão ameaçados que ocorrem no entorno da EE Arêdes e do MNE
Serra da Moeda. Assim, as gerações futuras poderão lembrar da maxalalagá como
um símbolo de preservação da região, e não como mais uma espécie que entrou
para a lista das extintas.
Figura 1.
Avanço
desordenado dos plantios de eucalipto (Eucalyptus
sp.), indicados pelas setas amarelas, no entorno da Estação Ecológica
Estadual de Arêdes, Itabirito, MG. Fonte: Google EarthTM.
Esta é uma iniciativa dos participantes da Semana
Florestal, promovida pelo Instituto Estadual de Florestas – IEF, em 04 de outubro
de 2016, realizado no auditório do IFMG, município de Itabirito, que em
plenária, aprovaram – às vésperas do “Dia da Ave” – a presente Carta, destinada
às autoridades municipais e
solicitando a atenção da Promotora de Justiça, como forma de alerta e preocupação
à existência de um grande número de
projetos de lei tramitando na Câmara Municipal para mudar o Plano Diretor e a
Lei de Uso e de Ocupação do Solo e que representam uma ameaça a preservação das
áreas de campo nativo.
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