Olá a todos, analisando os recentes e tristes fatos, primeiramente, nós da Estação Ecológica de Arêdes gostaríamos de desejar os sinceros sentimentos as famílias de Bento Rodrigues e demais atingidos, que Deus conforte o coração de todos. Dentro do contexto histórico, é possível ver nitidamente que já passou da hora de mudarmos a rota nas exigências e no processo de extração e beneficiamento mineral. Levando em conta que já existem possibilidades e alternativas técnicas que além de reduzir o consumo de água no processo de beneficiamento, eliminaria as barragens de rejeitos oriundos da lavagem do
minério de ferro. Até quando nós, a sociedade, vamos permitir a existência desse empreendimento degradante e arriscado? Entende-se como empreendimento degradante não só as barragens de rejeito mas todo tipo de empreendimento minerário que recebe todo tipo de facilidades e prioridades sob a justificativa de que são essenciais para a economia mineira, colocando em risco perpétuo o bem estar e a sobrevivência de todos.
A seguir, texto que retrata acontecimentos que acompanham a trajetória da mineração durante séculos.
A seguir, texto que retrata acontecimentos que acompanham a trajetória da mineração durante séculos.
MINERAÇÃO E TRAGÉDIAS EM MINAS GERAIS. ATÉ QUANDO ?
Marcos Paulo de Souza Miranda
Coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais.
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais
Mas
um lado funesto decorrente das atividades minerárias ao longo de mais de três
séculos de exploração é ainda pouco conhecido: a perda de vidas humanas e a
destruição do meio ambiente em episódios recorrentes na história do povo
mineiro.
Tratando
sobre a extração de ouro no Morro de Pascoal da Silva, em Vila Rica, em 1717, o
Conde de Assumar deixou registrado em seu diário que os negros faziam “huns
buracos mui profundos aonde se metem, e pouco a pouco vão tirando a terra para
a lavar; porém esta sorte de tirar ouro he mui arriscado, porque sucede muitas
vezes cahir a terra e apanhar os negros debayxo deitando-os enterrados vivos”.
O
Barão de Langsdorff, ao percorrer região de Mariana em 1824, registrou: “passamos
por um vale pobre e árido, por onde ocorre o rio São José, turvo pela lavação
do ouro e em cujas margens se veem montes de cascalhos, alguns até já cobertos
de capim. É difícil imaginar uma visão mais triste do que a deste vale, outrora
tão rico em ouro”
Em
meados de 1844, na Mina de Cata Branca, município de Itabirito, à época alvo
da exploração aurífera por uma empresa britânica, houve o desabamento da
galeria explorada e soterramento de dezenas de operários escravos. Segundo os
registros, dias depois do acidente ainda eram ouvidas vozes e
gemidos dos negros em meio aos escombros. Ante a dificuldade de
resgate, foi tomada a decisão de se desviar um curso d’água para inundar a
mina, matando os pobres trabalhadores sobreviventes afogados, ao invés de
espera-los morrer de fome.
Sobre
o fato, José Pedro Xavier da Veiga deixou registrado nas suas célebres
Efemérides Mineiras: “E lá estão enterradas naquele gigantesco túmulo
da rocha as centenas de mineiros infelizes, que encontraram a morte perfurando
as entranhas da terra para lhe aproveitar os tesouros. A mina conserva
escancarada para o espaço uma boca enorme rodeada de rochas negras e como que
aberta numa contorção de agonia”.
Em
21 de novembro de 1867, na Mina de Morro Velho, em Nova Lima, um desabamento
matou dezessete escravos e um trabalhador inglês. Dezenove anos mais tarde, em
10 de novembro de 1886, a história se repetiu em Morro Velho.
Mais
recentemente, rompimentos de barragens nas minas de Fernandinho (1986) e
Herculano (2014), em Itabirito; Rio Verde (2001), no Distrito de
Macacos, em Nova Lima; e da Mineração Rio Pomba (2008), em Miraí, redundaram em
dezenas de outras mortes e prejuízos irreversíveis ao meio ambiente.
No
último dia 05 de novembro de 2015, em Mariana, o rompimento de duas barragens
da empresa Samarco soterrou quase integralmente o Distrito de Bento Rodrigues,
ceifou vidas, destruiu dezenas de bens culturais e danificou de forma severa os
recursos ambientais de vasta extensão da Bacia do Rio Doce.
Todos
sabem que a história é mestra da vida e os fatos adversos por ela
registrados devem servir de alerta para o futuro, para que os erros não sejam
repetidos.
O
aprendizado com os equívocos de antanho deveria impor ao setor minerário da
atualidade uma completa mudança de paradigmas. Afinal, temos condições de sermos autores
da nossa própria história e não podemos admitir a repetição reiterada desses
desastres como algo normal, inerente às atividades econômicas de Minas Gerais.
Entretanto,
percebemos que ainda se avultam as inconsequentes condutas induzidas pela
ambição do lucro fácil e pelo desdém aos direitos alheios, não raras vezes
secundadas pela omissão ou incompetência de autoridades públicas responsáveis
pelos processos de licenciamento ambiental, que se contentam com a adoção de
tecnologias ultrapassadas em empreendimentos de alto risco, que raramente são
fiscalizados.
A
anunciada flexibilização do licenciamento ambiental pelo Governo de Minas, com
o nítido propósito de beneficiar, entre outros, o seguimento dos
empreendimentos de mineração, segue na contramão do que a sociedade mineira
espera e precisa: segurança e respeito aos seus direitos.
É
hora de dizer um basta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário